O Galante Atirador

XLIII


O GALANTE ATIRADOR


Ele fez parar a viatura que atravessava o bosque na vizinhança de um estande de tiro ao alvo, dizendo que lhe agradava a idéia de atirar algumas balas para matar o Tempo. Matar essa monstruosidade não é a ocupação mais ordinária e a mais legítima de todos nós? E ofereceu, galantemente, a mão à sua querida, deliciosa e execrável mulher, a essa misteriosa
lher à qual ele devia tanto em prazeres, tanto em dores e, também, talvez, uma grande parte de seu gênio.
Muitas balas bateram longe do alvo proposto; uma delas afundou-se no teto; e, como a charmosa criatura risse loucamente, caçoando da inabilidade do esposo, ele virou-se bruscamente para ela e lhe disse: “Observe aquela boneca, lá, à direita, que tem o nariz arrebitado e as feições tão altivas. Muito bem, meu caro anjo, eu imagino que seja você” E fechou os olhos e puxou o gatilho. A boneca foi, literalmente, decapitada.
Então, inclinando-se sobre sua querida, sua deliciosa, sua execrável mulher, sua inevitável e imperdoável Musa, e beijando-lhe, respeitosamente, a mão, acrescentou: “Ah! meu querido anjo, como lhe agradeço por minha pontaria.”

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